quinta-feira, 17 de junho de 2010

Bom Dia #1


Acordo, de manhã, com o cheiro forte a café, acabado de fazer. Abro os olhos à réstia de sol que entra pelas finas frestas da janela. Olha para o lado, só para encontrar a cama vazia de ti. Pergunto-me a que horas ter-te-ás levantado. Aliás, que horas são? Estico o braço e, às apalpadelas, procuro o meu relógio de pulso, aquele que me deste quando fizemos um ano de casados, lembras-te? Seis e meia, mais coisa, menos coisa. Levantaste-te cedo, hoje. Vinda da cozinha, oiço a tua voz a cantarolar uma melodia alegre, baixinha e muito suave. Finalmente decido sair da cama. Um pé de cada vez, calço os chinelos, azuis escuros, com finas listras brancas longitudinais. Se bem me lembro, foi a minha avó que mos ofereceu (para dizer a verdade, tudo o que fosse chinelos de quarto ou pijamas, só poderia ser prenda da minha avó, mas ainda bem, caso contrário, distraído como sou, andaria sempre descalço). Atravesso o quarto, a assobiar, ansioso por te dar um beijo de bom-dia. Desço as escadas e quase tropeço naquele degrau que está solto. Está assim desde que nos mudámos para aqui. Hoje, sem falta, vou arranjá-lo! O cheiro do café intensifica-se à medida que avanço. Em silêncio, entro na cozinha e lá estás tu, de costas para a porta, mãos pousadas em cima da mesa, ar pensativo, com o teu robe salmão, com um nó solto à frente, com a renda a roçar-te nos joelhos. Ainda não te apercebeste da minha presença. Devagarinho, aproximo-me e abraço-te a cintura, dás um saltinho, não estavas à espera. Mas depois sorris e eu encosto os meus lábios ao teu pescoço... Bom dia!

Fotografia: RobertoTerra

1 comentário:

  1. "sorris e encosto os meus lábios ao teu pescoço"...magnífico. Sara

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