sábado, 7 de agosto de 2010

'Anda, vamos! Vou te levar ao circo!' (1)

'Anda, vamos! Vou te levar ao circo!', 'A sério, papá? Eu nunca fui ao circo! É verdade que há leões e tigres? Oh e arcos de fogo? E bailarinas?', 'Vais ter que esperar para ver!'. Luís pegou na mão da sua pequena Rita e prepararam-se para sair. O circo ficava perto, portanto resolveram caminhar até lá. Estava um dia agradável, o quente do Sol brilhante era amenizado pela gentil brisa que assobiava entre as árvores. Mais à frente, já se ouviam apitos, martelinhos e uma qualquer canção infantil, saída de dois altifalantes colocados estrategicamente no topo de uma carrinha colorida. À medida que se aproximavam, o som a festa aumentava, bem como o cheiro a pipocas, gelados e algodão-doce. 'Eu quero, eu quero!', dizia a doce Ritinha, enquanto puxava as calças de fazenda do pai. "Está bem! Mas só porque é dia de festa! O que queres?', 'O algodão gigante e colorido!', 'Algodão-doce, sua tontinha!' e dito isto, Luís pegou na filha para que ela pudesse ver melhor como se fazia aquele "algodão gigante e colorido". Parecia magia: a senhora limitava-se a pôr açúcar num buraquinho e, do nada, formavam-se todos aqueles fios enrolados numa vara de madeira. A menina recebeu o seu doce e começou imediatamente a comê-lo, um bocadinho de cada vez, mas com uma velocidade incrível! 'Se comes isso tudo, ainda rebentas!', 'Também podes comer, se quiseres, papá! Eu deixo!'. O pai riu-se, deu um beijo na bochecha da filha, e retornou-a ao chão. Começou a procurar os bilhetes para puderem entrar. Pôs a mão no bolso direito das calças, e nada! Bolso esquerdo, nada! 'Oh merda!', pensou ele. Mas entretanto lembrou-se que os tinha guardado no bolso da camisa. Começou a rir-se sozinho da sua distracção. Deu a mão à pequena e dirigiram-se para à fila. Por sorte chegaram cedo, e a fila ainda estava pequena, pelo menos comparado com o tamanho que tomaria dentro de dez, quinze minutos. À entrada, a receber os bilhetes, estava um jovem alto, na casa dos vinte anos, com umas calças às riscas, verticais, azuis, amarelas e vermelhas, presas por uns suspensórios roxos, por cima de uma simples t-shirt branca. A indumentária era complementada com um laço verde-alface ao pescoço. Na cara, a maquilhagem colorida dava-lhe o toque final ao aspecto circense. 'Sabes, papá, o mano disse que no circo, todos se escondem atrás de uma máscara, como aquele rapaz ali. Mas eu acho que não, eu acho que eles só são felizes com a máscara!'. Luís ficou boquiaberto com as palavras da filha, e com a simplicidade e naturalidade com que ela as proferira. Rita continuou a saborear o seu algodão gigante, tão inocentemente como fizera aquela observação. Mas o seu pai começou a meditar sobre o que ouvira. Olhou para o jovem das calças às riscas, verticais, azuis, amarelas e vermelhas. 'Será que aquelas pinturas na sua face escondem mesmo alguma coisa?' (continua...)

Fotografia: RobertoTerra

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